"morrer de vez em quando ´
é a única coisa que me acalma" leminski
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
nadine na década de 70 parte 4
perdida em seus dilemas
esconde o canivete
entre um cigarro e outro
trama sua vingança
sanguinolenta virótica cancerígena
fios de cabelo, cacos de vidro, barbitúricos e indiferença
a rebordosa do rancor
é o estopim
o passo inviesado
celebra a certeza do tropeço
mais um dia de não saber o que
seu caminho incerto demonstra covardia
mas outros dizem q é coragem...
(pra sempre incompleto)
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Cv Oliveira
Cv Oliveira: "o resto, o gasto, o rastro, a sobra
o destempero, o descompasso
nos cerca
nos espreita
o temor alcoolizante
a vereda sempre parece fazer perder
os objetos da sacola
o tempo necessário
a paciência
e algum tipo de fé
que por ventura ou desventura
o tempo nos fez adquirir
mas o peso continua
o desespero repete, teima com o coração
batendo batendo batendo
cassius clay
de sua mão pesada
é impossível se esquivar
recue, é chegado o tempo da desistÊncia
sem essa de amparo ou consolo
apenas sente-se e cale-se
as vezes é a única coisa q pode ser feito"
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o destempero, o descompasso
nos cerca
nos espreita
o temor alcoolizante
a vereda sempre parece fazer perder
os objetos da sacola
o tempo necessário
a paciência
e algum tipo de fé
que por ventura ou desventura
o tempo nos fez adquirir
mas o peso continua
o desespero repete, teima com o coração
batendo batendo batendo
cassius clay
de sua mão pesada
é impossível se esquivar
recue, é chegado o tempo da desistÊncia
sem essa de amparo ou consolo
apenas sente-se e cale-se
as vezes é a única coisa q pode ser feito"
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quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Facebook: ""seu copo está abandonado a tanto tempo que o que restava de álcool evaporou.
ela busca na janela o sentido que não encontra dentro do apartamento.
a festa acabou e ninguém percebeu.
algumas coisas acabam mesmo se você não for embora."
QUASE NADA"
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ela busca na janela o sentido que não encontra dentro do apartamento.
a festa acabou e ninguém percebeu.
algumas coisas acabam mesmo se você não for embora."
QUASE NADA"
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quinta-feira, 1 de setembro de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Facebook: "não acredito em cristo crucificado. acredito no cristo ressuscitado no êxtase do amor. acredito na eternidade. a morte é uma invenção da direita." Glauber Rocha
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Cv Oliveira
Cv Oliveira: "ó não sei se é aquela canção do rádio
ou aquela garrafa de chora rita
que num me deixa escapar de você
maldita aldenora
rogo pra tu ficar careca, aumente teu chulé
pra te arrancar feito bicho de pé
de meu coração tonto de tanto tombo"
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ou aquela garrafa de chora rita
que num me deixa escapar de você
maldita aldenora
rogo pra tu ficar careca, aumente teu chulé
pra te arrancar feito bicho de pé
de meu coração tonto de tanto tombo"
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Cv Oliveira
Cv Oliveira: "aldenora você é uma marmota
que amassou meu coração
feito pão que o cão não quis
pegue sua amora, seu caja-manga,
suas calcinhas cheirosas (sua desgraçada),
tua panela velha, tuas meias furadas...
enfia tudo na sua sacola
e vá embora sem demora do meu coração
é mentira besta fique aguarde acalme
tenha pressa não
mesmo de cara feia tua é bela
e agrada meus olhos"
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que amassou meu coração
feito pão que o cão não quis
pegue sua amora, seu caja-manga,
suas calcinhas cheirosas (sua desgraçada),
tua panela velha, tuas meias furadas...
enfia tudo na sua sacola
e vá embora sem demora do meu coração
é mentira besta fique aguarde acalme
tenha pressa não
mesmo de cara feia tua é bela
e agrada meus olhos"
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Cv Oliveira
Cv Oliveira: "eu que lhe trouxe tanta garapa, com tanto amor que me acabrunhava o coração, que era de pedra, mas depois de tu parece alfinim"
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Cv Oliveira
Cv Oliveira: "aldenora morde amora
diz do teu gosto molhado
me oferece um pedaço
me dá cafuné, chêro no cangote
do teu gesto engomado
surge feito fogo fátuo
aquela demora
dor de estômago
você foi embora
cadê você sua ingrata?"
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diz do teu gosto molhado
me oferece um pedaço
me dá cafuné, chêro no cangote
do teu gesto engomado
surge feito fogo fátuo
aquela demora
dor de estômago
você foi embora
cadê você sua ingrata?"
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Cv Oliveira
Cv Oliveira: "tua culpa
é minha roupa molhada
é minha lágrima
arde de salgada
meu rancor é ácido sulfúrico
rasga meu estômago
me faz conhecer vc
teu gesto teu susto sua sombra
que sobra de seu corpo
torto trôpego
teu veneno é isso que diz ser amor"
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é minha roupa molhada
é minha lágrima
arde de salgada
meu rancor é ácido sulfúrico
rasga meu estômago
me faz conhecer vc
teu gesto teu susto sua sombra
que sobra de seu corpo
torto trôpego
teu veneno é isso que diz ser amor"
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terça-feira, 19 de julho de 2011
sou bardo e ardo todo teu corpo
pele carne osso
feito sangue susto ácido sulfúrico
ardo e largo meus pedaços
todos desprêzo
despeço despedaço
olho lingua suja:
do sossego resta o escárnio
descompasso sua prece
tremo seu dedo trôpego
bebo verme vinho
fico vesgo recrio-me
mamulengo zonzo
enrosco em você pescoço
lambo todo teu rosto gasto
gosto e cuspo
de asco esse teu conforto
feito forte mas é fraco e fosco
esqueça. esqueço!
deixe-me assim só
com todo meu desgosto
pele carne osso
feito sangue susto ácido sulfúrico
ardo e largo meus pedaços
todos desprêzo
despeço despedaço
olho lingua suja:
do sossego resta o escárnio
descompasso sua prece
tremo seu dedo trôpego
bebo verme vinho
fico vesgo recrio-me
mamulengo zonzo
enrosco em você pescoço
lambo todo teu rosto gasto
gosto e cuspo
de asco esse teu conforto
feito forte mas é fraco e fosco
esqueça. esqueço!
deixe-me assim só
com todo meu desgosto
segunda-feira, 18 de julho de 2011
DEZ ANOS ATRÁS
ME ESQUIVO DE ABANDONOS
COMO SE ME LIVRA-SE DOS SOCOS DE CASSIUS CLAY
APENAS NÃO MAIS ENTREGANDO
POR ISSO MUDEI DE IDÉIAS
ESQUECENDO O TEMPO MUNDANO
SÓ NÃO ESQUECI O CANO
QUE ENCOSTO NA TÊMPORA
PRA TERMINAR O TEMPORAL
NUM ESQUIVAR FINAL
ABANDONANDO
COMO SE ME LIVRA-SE DOS SOCOS DE CASSIUS CLAY
APENAS NÃO MAIS ENTREGANDO
POR ISSO MUDEI DE IDÉIAS
ESQUECENDO O TEMPO MUNDANO
SÓ NÃO ESQUECI O CANO
QUE ENCOSTO NA TÊMPORA
PRA TERMINAR O TEMPORAL
NUM ESQUIVAR FINAL
ABANDONANDO
segunda-feira, 6 de junho de 2011
sábado, 4 de junho de 2011
um certo gosto por ser nada
12
Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.
Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.
MEU MUNDO É UMA CAIXA DE MÚSICA
Mundo Pequeno
I
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
II
Conheço de palma os dementes de rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama
e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar
no horizonte.
Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas
de Corumbá.
Me disse que as coisas que não existem são mais
bonitas.
IV
Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Iíngua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.
VI
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.
I
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
II
Conheço de palma os dementes de rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama
e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar
no horizonte.
Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas
de Corumbá.
Me disse que as coisas que não existem são mais
bonitas.
IV
Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Iíngua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.
VI
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.
Uma Didática da Invenção do "O Livro das Ignorãnças"
I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
IX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
IX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
EU NÃO SOU PIEDOSO
"Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam cu-de-ferro e me fariam perguntas
por que navio bóia? Por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça decompões nos pavimentos
Os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através do meus sonhos
PIEDADE - Roberto Piva
os professores falavam da vontade de dominar e da luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam cu-de-ferro e me fariam perguntas
por que navio bóia? Por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça decompões nos pavimentos
Os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através do meus sonhos
PIEDADE - Roberto Piva
segunda-feira, 30 de maio de 2011
“Ganimedes 76” - ROBERTO PIVA
Teu sorriso
olhinhos como margaridas negras
meu amor navegando na tarde
batidas de pêssego refletindo em teus olhinhos de
fuligem
cabelos ouriçados como um pequeno deus de um salão
rococó
força de um corpo frágil como âncoras
gostei de você eu também
amanhã então às 7
amanhã às 7
tudo começa agora num ritual lento & cercados de
gardênias de pano
Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem"
(Abra os olhos e diga Ah!, 1976)
(Abra os olhos e diga Ah!, 1976)
Poema XIV - ROBERTO PIVA
"vou moer teu cérebro. vou retalhar tuas
coxas imberbes & brancas.
vou dilapidar a riqueza de tua
adolescência. vou queimar teus
olhos com ferro em brasa.
vou incinerar teu coração de carne &
de tuas cinzas vou fabricar a
substância enlouquecida das
cartas de amor." (20 Poemas com Brócoli, 1981)
quase tudo é um acidente...
inclusive vc e eu
é o acaso mostrando pra que veio
chutando nOSSA sua cara e dizendo: é só isso mesmo
o sabor do veneno o gosto do beijo
o fracasso, a culpa
e o cocktail molotov
quase tudo é um acidente
inclusive vc é eu
o amor é um acidente
a última mulher e a próxima também
seus amigos... inclusive
a quina da mesa...
ei ei idiota nada é de propósito... é a voz do fogo que lhe fala...
nada tem propósito
tenha um pouco de paciência então
quase tudo é um acidente
inclusive vc e eu
é o acaso mostrando pra que veio
chutando nOSSA sua cara e dizendo: é só isso mesmo
o sabor do veneno o gosto do beijo
o fracasso, a culpa
e o cocktail molotov
quase tudo é um acidente
inclusive vc é eu
o amor é um acidente
a última mulher e a próxima também
seus amigos... inclusive
a quina da mesa...
ei ei idiota nada é de propósito... é a voz do fogo que lhe fala...
nada tem propósito
tenha um pouco de paciência então
quase tudo é um acidente
- Vai esquece o medo
Ele não serve pra todo momento
Vai esquece... precisamos ser um pouco de aço
Pra agüentar um pouco mais
Deixa a choro pra depois
Por que no final a lágrima sempre acaba caindo
Mas esquece um pouco a lágrima
E agüente um pouco
aguarde só mais um pouco
seja de aço inoxidável
corpo firme e coração na mão
deixa o medo pra daqui a pouco
porque tem a hora certa de desabar
mas não agora, só daqui a pouco
contra a correnteza
contra a tristeza
contra a covardia- é sim
é preciso
aguente mais um pouco
até então não havia confirmado minha presença aqui
mas começo ver outro caminho
Digo: ESTOU AQUI, EU AGUENTO E NÃO ARREDO O PÉ
e é nessa covardia de não afirmar, de não refletir, de não perguntar q todo mundo tem se escondido
na ausência de gentileza, no sumiço do carinho é q a maioria se satifaz
mas eu não sou a maioria
nunca fui a maioria
nunca serei
e não compactuo com isso
meu compromisso
e com a verdade, mesmo q provisória
com a lealdade, mesmo q difícil
com o amor, mesmo q raro
e o medo q eu tenho
vou deixar pra depois
o medo que eu tenho
vou deixar pras horas de descanso
sou mesmo piegas admito acredito em amor e outras cositas más, é serio acredito sim... e me sinto fraco quando sem querer acabo por vezes desacreditando nessa minha porção piegas necessária a minha existência, por ceder a tentação de pessoas que não acreditam... eu devo minha vida a isso, é um fio de q deve me conduzir, a coluna q deve me sustentar... acredito apesar de tudo que busca perverter isso
e não é apenas uma reflexão instrospecta, deve ser uma prática, uma operação tática, um estratégia q deve guardar em sí a desordem o caos o acaso a dialética (hehehe)... o aperto de mãos, o perdão, um abraço, um beijo espocado, um sorriso de quebrar as pernas da vitima de tanto fazê-la sorrir, um cafuné... um bom dia suavemente verdadeiro... porra é simples, o amor é importante...
e não é apenas uma reflexão instrospecta, deve ser uma prática, uma operação tática, um estratégia q deve guardar em sí a desordem o caos o acaso a dialética (hehehe)... o aperto de mãos, o perdão, um abraço, um beijo espocado, um sorriso de quebrar as pernas da vitima de tanto fazê-la sorrir, um cafuné... um bom dia suavemente verdadeiro... porra é simples, o amor é importante...
eu sou o que eu quiser
"eu sou o desconforto o desmazelo e a pressa
sou o q não imagino e o contrário disso
sou feito de você junto comigo, de mim junto contigo
da raiva
sou feito do erro
meu alimento
e nisso me comprazo
e nisso me construo
sou o demodê
q anda coxo
e nada o faz parar
e acredita mesmo
sem se fazer acreditar"
Acorrentados
Quem coleciona selos para o filho do amigo
quem acorda de madrugada e estremece no desgosto de si mesmo ao lembrar que há muitos anos feriu a quem amava
quem chora no cinema ao ver o reencontro de pai e filho
quem segura sem temor uma lagartixa e lhe faz com os dedos uma carícia
quem se detém no caminho para ver melhor a flor silvestre
quem se ri das próprias rugas
quem decide aplicar-se ao estudo de uma língua morta
depois de um fracasso sentimental
quem procura na cidade os traços da cidade que passou
quem se deixa tocar pelo símbolo da porta fechada
quem costura roupa para os lázaros
quem envia bonecas às filhas dos lázaros
quem diz a uma visita pouco familiar: Meu pai só gostava desta cadeira
quem manda livros aos presidiários
quem se comove ao ver passar de cabeça branca aquele ou aquela, mestre ou mestra, que foi a fera do colégio
quem escolhe na venda verdura fresca para o canário
quem se lembra todos os dias do amigo morto
quem jamais negligencia os ritos da amizade
quem guarda, se lhe deram de presente, o isqueiro que não mais funciona
quem, não tendo o hábito de beber, liga o telefone internacional no segundo uísque a fim de conversar com amigo ou amiga
quem coleciona pedras, garrafas e galhos ressequidos
quem passa mais de dez minutos a fazer mágicas para as crianças
quem guarda as cartas do noivado com uma fita
quem sabe construir uma boa fogueira
quem entra em delicado transe diante dos velhos troncos,
dos musgos e dos liquens
quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência
quem não se acanha de achar o pôr-do-sol uma perfeição
quem se desata em sorriso à visão de uma cascata
quem leva a sério os transatlânticos que passam
quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz
quem de repente liberta os pássaros do viveiro
quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo
quem julga adivinhar o pensamento do cavalo
todos eles são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre.
Paulo Mendes Campos
Texto extraído do livro "O Anjo Bêbado", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, pág. 105.
domingo, 29 de maio de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
quinta-feira, 26 de maio de 2011
5 leis de Claudianathan:
O álcool é para ser bebido
Todo bebum tem seu copo sujo
Todo copo sujo tem o seu bebum
Poupe o tempo do bebado
A barriga é um organismo em crescimento
Todo bebum tem seu copo sujo
Todo copo sujo tem o seu bebum
Poupe o tempo do bebado
A barriga é um organismo em crescimento
cidades invisíveis
“Klublai: Talvez esse nosso diálogo se dê entre dois maltrapilhos apelidados Kublai Khan e Marco Polo que estão revolvendo um depósito de lixo, amontoando resíduos enferrujados, papel, e, bêbados, com poucos goles de vinho de má qualidade, vêem resplandecer ao seu redor todos os tesouros do oriente.
Polo: Talvez o mundo só reste um terreno baldio coberto de imundícies e o jardim suspenso do paço imperial do Grande Khan. São as nossas pálpebras que os separam, mas não se sabe qual está dentro e qual está fora.”
I. CalvinoPublicar postagem
Polo: Talvez o mundo só reste um terreno baldio coberto de imundícies e o jardim suspenso do paço imperial do Grande Khan. São as nossas pálpebras que os separam, mas não se sabe qual está dentro e qual está fora.”
I. CalvinoPublicar postagem
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